Ginga: Não mais apenas a identidade do futebol brasileiro

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Por Pulasta Dhar
No coração do Rio de Janeiro – a cidade mais popular do Brasil – ao norte das praias de Copacabana e Ipanema, fica um bairro chamado Saúde. É o lar de Pedro do Sal – ou ‘pedra de sal’ – que em certo momento foi o lar de muitos dos escravos fugitivos e libertados do passado. Toda segunda-feira à noite, os brasileiros se reúnem a esta rocha, revivendo e celebrando o que se tornou a maior oferta cultural do país – o samba. Grandes grupos de pessoas rodeiam os sambistas que tocam música ao vivo, balançando juntos.

AVERTISEMENT

Pedro do Sal é uma personificação da expressão, elegância e euforia do país – traços que também formaram a forma como o Brasil jogou futebol. Essa cultura – que levou à ginga, ou a arte de jogar futebol com alegria e trapaça – foi o que fez Pelé Pelé e Garrincha Garrincha.
A ginga tem tido seus problemas ao longo dos anos, como quando sua defesa levou à derrota final da Copa do Mundo contra o Uruguai, em 1950, no Maracanã. A opinião sobre o ginga também mudou à medida que mais e mais estrelas brasileiras começaram a jogar no exterior, aprendendo um estilo mais tático.

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Meanwhile, coaches no país também começaram a ser influenciados por métodos europeus mais organizados. Mesmo no Red Bull Neymar Jr’s Five, agora o maior torneio amador de cinco jogadores do mundo, a equipe da casa parece ter sido enganada pelo estilo mais calculado e físico da Hungria, perdendo por 5-0,
“Agora, quando os técnicos vêem um jogador driblar de uma forma que a ginga lhe permitiria, o técnico apita e pede que ele passe a bola”, diz Daniel Ottoni, que cobre o futebol para um jornal no Brasil. “Mas nós somos brasileiros. Queremos que o nosso futebol nos tire dos nossos lugares e grite de alegria”, acrescenta ele.

O resultado no Red Bull Neymar Jr’s Five pode ser insignificante no quadro geral do futebol associativo, mas aponta para uma enorme mudança na forma como o esporte é jogado, mesmo em um formato de futsal onde a sagacidade e os tremores contam para mais.
Hungria e o Brasil, de forma independente, inventou variações da formação 4-2-4 nos anos 50 como uma forma de contrapor a solidez da formação W-M. Foi preciso o húngaro Bela Guttman, que veio ao Brasil primeiro em turnê com suas equipes Hakoah All-Stars e Honved e depois como técnico do São Paulo, para convencer a seleção a adotar uma formação que permitisse aos jogadores habilidosos prosperar em um esquema arriscado que exigisse defensores que pudessem passar a bola e ser criativos. O resultado foi uma mistura de inteligência tática e ginga, com vitórias nas Copas de 1958, 1962 e 1970.

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Mas a rigidez seria adotada novamente antes que o Brasil pudesse tirar as pessoas de suas cadeiras com Ronaldinho e Ronaldo em 2002. Pelé já falou disso várias vezes, acreditando que o êxodo dos brasileiros para as ligas europeias tornou o futebol do país mais tático do que nunca. “Nós dizemos: ‘Queremos dançar.
Queremos ginga’. O futebol não se trata de lutar até a morte. Você tem que jogar bonito.’
E assim fizemos, e essa é a razão pela qual o Brasil criou mais um show, mais um balé, do que o estilo europeu”.
O Football, no entanto, tinha seguido em frente. Quando uma Alemanha implacável os derrotou por 7-1 nas semifinais da Copa do Mundo de 2014, a reação foi muito parecida com a de 1950 – suas raízes foram postas em dúvida. No entanto, é preciso aceitar que sempre que o futebol deles ressoa da imprevisibilidade rítmica, isso lhes trouxe mais sucesso do que fracasso. “Os treinadores diriam primeiro que gostam do jogo. Façam um show. Mas se você assistir agora, é uma bobagem. A era de Ronaldo, Robinho, Rivaldo, Kaká, Garrincha e Pelé se foi. Mas com habilidade vêm os erros, e os treinadores odeiam isso. Os brasileiros jogaram como robôs quando isso aconteceu”, diz Eduardo, o brasileiro que jogou pelo Bengala Oriental e Mohun Bagan na Índia.
Na Copa do Mundo de 2014, o Brasil tinha 14,1 dribbles por jogo. A Bósnia &Herzegóvina tinha mais. Neymar foi o 10º na lista de jogadores com mais dribles naquele ano. Em 2018, o Brasil foi o segundo melhor com 14,8 dribbles por jogo. A Nigéria tinha 16. Não que os dribles sejam a única razão de o Brasil não ter tido sucesso nesses torneios, mas o primeiro desafio do novo técnico Tite foi criar uma equipe com disciplina tática e a magia natural dos jogadores brasileiros.
Na Copa 2019, os dribles por jogo subiram para 17,8 – o máximo por equipe no campeonato internacional de elite da América do Sul. Tite alcançou o sucesso da Copa sem o lesionado Neymar – e embora a defesa sob ele tenha sido rígida, o ataque foi equilibrado e inventivo.
Em 2017, disse ele: “O que mais me fascina é o Brasil de 1982. Eles jogaram quase sem pensar. Aquele time foi tão impressionante.
Falcao, Sócrates, Cerezo e Zico. Eu olho para aquele time e penso que é muito bonito jogar futebol”.
O time do Tite não está nem perto daquela marca, mas ele tem o apoio unânime para liderar o Brasil no futuro e possivelmente no Qatar em 2022. Ginga não está completamente morto. Agora, é mais uma polvilhada num prato mais simples cujo sabor o Brasil está lentamente aprendendo a adquirir.

(Disclaimer: As opiniões expressas nesta coluna são as do escritor. Os fatos e opiniões aqui expressos não refletem a opinião de www.economictimes.com.)

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