A coluna cervical é a porção mais superior da coluna vertebral, situada entre o crânio e as vértebras torácicas.
Consiste em sete vértebras distintas, duas das quais recebem nomes únicos:
- A primeira vértebra cervical (C1) é conhecida como o atlas.
- A segunda vértebra cervical (C2) é conhecida como o eixo.
Neste artigo, veremos a anatomia das vértebras cervicais – suas características, articulações e relevância clínica.
Características
As vértebras cervicais têm três características principais que as distinguem das outras vértebras:
- Forame triangular.
- Processo espinhoso bífido – é aqui que o processo espinhoso se divide em dois distalmente.
- Foramina transversa – orifícios nos processos transversais. Eles dão passagem à artéria vertebral, veia e nervos simpáticos.
Atlas e Eixo
O atlas e eixo têm características adicionais que os marcam separadamente das outras vértebras cervicais.
Atlas
O atlas é a primeira vértebra cervical e articula-se com o occipital da cabeça e do eixo (C2).
Difere das outras vértebras cervicais por não ter corpo vertebral e não ter processo espinhoso. Ao invés disso, o atlas tem massas laterais que estão ligadas por um arco anterior e posterior. Cada massa lateral contém uma faceta articular superior (para articulação com côndilos occipitais) e uma faceta articular inferior (para articulação com C2).
O arco anterior contém uma faceta para articulação com as covas do eixo. Esta é fixada pelo ligamento transverso do atlas – que se liga às massas laterais. O arco posterior possui um sulco para a artéria vertebral e nervo espinhal C1.
Áxis
O eixo (C2) é facilmente identificável devido às suas covas (processo odontóide) que se estende superiormente a partir da porção anterior da vértebra.
As covas articulam-se com o arco anterior do atlas, criando assim a articulação atlanto-axial medial. Isto permite a rotação da cabeça independentemente do tronco.
O eixo também contém as facetas articulares superiores, que se articulam com as facetas articulares inferiores do atlas para formar as duas articulações laterais do atlanto-axial.
Juntos
As articulações da coluna cervical podem ser divididas em dois grupos – as que estão presentes em toda a coluna vertebral, e as que são exclusivas da coluna cervical.
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Presentes em toda a coluna vertebral
Existem duas articulações diferentes presentes em toda a coluna vertebral:
- Entre corpos vertebrais – corpos vertebrais adjacentes são unidos por discos intervertebrais, feitos de fibrocartilagem. Este é um tipo de articulação cartilaginosa, conhecida como sínfise.
- Entre os arcos vertebrais – formada pela articulação dos processos articulares superior e inferior das vértebras adjacentes. É uma articulação do tipo sinovial.
Unique à Coluna Cervical
Existem duas articulações exclusivas da coluna cervical – as articulações atlanto-axial (x3) e atlanto-occipital (x2).
As articulações atlanto-axiais são formadas pela articulação entre o atlas e o eixo:
- Articulações atlanto-axiais laterais (x2) – formadas pela articulação entre as facetas inferiores das massas laterais de C1 e as facetas superiores de C2. São articulações sinoviais do tipo plano.
- Articulação atlanto-axial medial – formada pela articulação das covas de C2 com a faceta articular de C1. Esta é uma articulação sinovial tipo pivô.
As articulações atlanto-occipitais consistem de uma articulação entre a coluna vertebral e o crânio. Ocorrem entre as facetas superiores das massas laterais do atlas e dos côndilos occipitais na base do crânio. São articulações sinoviais do tipo condilóide, e permitem a flexão na cabeça, ou seja, acenando com a cabeça.
Ligamentos
Existem seis ligamentos principais a considerar na coluna cervical. A maioria destes ligamentos está presente em toda a coluna vertebral.
Presente em toda a coluna vertebral
- Ligamentos longitudinais anteriores e posteriores – ligamentos longos que percorrem o comprimento da coluna vertebral, cobrindo os corpos vertebrais e os discos intervertebrais.
- Ligamentum flavum – liga os laminados das vértebras adjacentes.
- Ligamento interespinhoso – liga os processos espinhosos das vértebras adjacentes.
Unique à coluna cervical
- Ligamento nucal – uma continuação do ligamento supraespinhoso. Fixa-se às pontas dos processos espinhosos de C1-C7 e fornece a fixação proximal aos rombóides e trapézios.
- Ligamento transversal do atlas – liga as massas laterais do atlas, e ao fazê-lo ancora as covas no seu lugar.
(Nota: Alguns textos consideram o ligamento interespinhoso como fazendo parte do ligamento nucal).
Relações anatômicas
A coluna cervical tem uma estreita relação com várias estruturas neurovasculares no pescoço.
Os foramina transversais das vértebras cervicais proporcionam uma passagem pela qual a artéria vertebral, veia e nervos simpáticos podem passar. A única exceção é C7 – onde a artéria vertebral passa ao redor da vértebra, ao invés de atravessar o forame transversal.
Os nervos vertebrais estão intimamente relacionados com as vértebras cervicais. Eles se estendem de cima das suas respectivas vértebras, através do forame intervertebral criado pelas articulações nos processos articulares. Novamente, C7 é uma exceção – tem um conjunto de nervos espinhais que se estende de cima (C7) e de baixo (C8) da vértebra. Portanto, existem oito nervos espinhais associados a sete vértebras cervicais.
Clinical Relevance: Lesões na coluna cervical
Jefferson Fractura do Atlas
Uma queda vertical num pescoço estendido, por exemplo, mergulhando em água excessivamente rasa pode comprimir as massas laterais do atlas entre os côndilos occipitais e o eixo. Isto faz com que sejam afastados, fracturando um ou ambos os arcos anterior/posterior.
Se a queda ocorrer com força suficiente, o ligamento transverso do atlas também pode ser rompido.
Desde que o forame vertebral seja grande, é improvável que haja danos na medula espinhal ao nível de C1. Contudo, pode haver danos mais abaixo na coluna vertebral.
Hiperextensão (Whiplash) Lesão
Uma colisão traseira de tráfego ou um equipamento de râguebi mal executado pode resultar no chicoteamento da cabeça sobre os ombros, causando chicoteamento. Em casos menores, o ligamento longitudinal anterior da coluna vertebral é danificado, o que é extremamente doloroso para o paciente.
Em casos mais graves, podem ocorrer fracturas em qualquer uma das vértebras cervicais, uma vez que estas são subitamente comprimidas por uma desaceleração rápida. Mais uma vez, uma vez que o forame vertebral é grande, há menos hipóteses de envolvimento da medula espinal.
O pior cenário para estas lesões é que ocorre deslocação ou subluxação das vértebras cervicais. Isto acontece frequentemente ao nível do C2, onde o corpo de C2 se move anteriormente em relação ao C3. Tal lesão pode muito bem levar ao envolvimento da medula espinhal, e como consequência pode ocorrer quadriplegia ou morte. Mais comumente, a subluxação ocorre no nível C6/C7 (50% dos casos).
Fractura de Hangman
Fractura de Hangman refere-se a uma fractura da pars interarticularis (coluna óssea entre as faces articulares superior e inferior do eixo). Ocorre tipicamente como resultado de hiperextensão de alta velocidade e distração da cabeça.
Tal lesão é susceptível de ser letal, pois ou os fragmentos da fratura ou a força envolvida são susceptíveis de romper a medula espinhal; causando inconsciência profunda, insuficiência respiratória e insuficiência cardíaca.
Fractura da Dens
Fracturas do processo odontóide representam ~40% das fracturas de C2.
As fracturas são geralmente instáveis e com elevado risco de necrose avascular – devido ao isolamento do fragmento distal de qualquer fornecimento de sangue. Como em qualquer fratura da coluna vertebral, há risco de envolvimento da medula espinhal.